No dia 5 de abril, Portugal celebra o Dia Nacional do Doente com Artrite Reumatóide. E porque a partilha de informação é o principal objetivo destas datas comemorativas, respondemos a algumas perguntas sobre estas doenças:
Reumatismo, doenças reumáticas, artrite reumatóide... É fácil entender por que existe alguma confusão sobre as diferentes terminologias e definições de cada palavra. Por isso, escrevemsos e respondemos a algumas das perguntas mais frequentes relacionadas ao reumatismo e doenças reumáticas.
1. O que é o reumatismo?
Em linguagem médica, o termo reumatismo é considerado bastante antiquado e ultrapassado. No entanto, ainda faz parte do vocabulário de muitas pessoas, por isso vale a pena dedicar algum tempo para entender exatamente o que a palavra significa.
Reumatismo não é uma doença, mas sim um termo geral que agrupa doenças caraterizadas por inflamação nas articulações, músculos, ligamentos, ossos e tendões.
Em Portugal, uma das doenças deste grupo, a artrite reumatóide, afecta cerca de 40.000 pessoas.
Um grande número de doenças reumáticas, como a artrite reumatóide e o lúpus, são doenças autoimunes, o que significa que o sistema imunitário ataca o tecido saudável do corpo. A causa ainda não foi descoberta. Apesar disso, acredita-se que pode ser devido a uma combinação de fatores genéticos e ambientais que desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de doenças autoimunes, mas que certas infecções podem também atuar como gatilhos.
Nem todas as condições reumáticas são doenças autoimunes. A osteoartrite, por exemplo, é uma doença degenerativa que se desenvolve com a idade, enquanto a gota é causada por altos níveis de ácido úrico no sangue. Nenhuma destas doenças se enquadra no grupo das doenças autoimunes, mas ambas pertencem à categoria de doenças reumáticas.
Reumatismo refere-se, portanto, a uma ampla gama de diferentes doenças, todas elas classificadas como doenças reumáticas, devido a uma série de sintomas relacionados à dor no sistema locomotor.
As doenças reumáticas são geralmente tratadas por reumatologistas, médicos especializados neste grupo de doenças. Contudo, certas doenças podem exigir o conhecimento de outros especialistas como imunologistas ou cardiologistas para o seu tratamento.
Dentro do conceito “reumatismo” existe uma subcategoria que agrupa uma das doenças reumáticas mais comuns: a artrite.
2. Reumatismo e artrite são a mesma coisa?
Normalmente reumatismo e artrite são termos utilizados indiferenciadamente, mas não significam a mesma coisa.
Como mencionado anteriormente, as doenças reumáticas causam inflamação nas articulações, músculos, ligamentos, ossos e tendões. Artrite refere-se especificamente ao conjunto de doenças que afectam as articulações, uma subcategoria que representa uma grande percentagem de dos casos.
De facto, existem mais de 100 doenças artríticas, e estima-se que entre 2500 e 5000 pessoas em Portugal vivem com artrite psoriásica, uma das formas mais comuns deste grupo de doenças das articulações.
Deste modo, é compreensível que o reumatismo e a artrite possam ser frequentemente utilizados como sinónimos, pois é comum que as pessoas vivam com uma doença que incluí ambas as condições. No entanto, há uma variedade de doenças reumáticas não-artríticas, que são conhecidas como doenças reumáticas não-articulares, o que literalmente significa que elas não afetam as articulações.
O melhor exemplo de uma doença reumática não-articular é a fibromialgia, caracterizada pela dor prolongada em todo o corpo.
Outra condição que não é estritamente um tipo de artrite, apesar de apresentar sintomas que afetam as articulações, é a febre reumática.
3. O que é a febre reumática?
A febre reumática é uma doença potencialmente grave, cuja causa está relacionada com a bactéria estreptococos do grupo A, responsável pela febre escarlatina e faringite estreptocócica. Esta última pode ocorrer em qualquer idade, mas é comum em crianças entre 5 e 15 anos.
Quando não tratada, a faringite estreptocócica pode desencadear uma resposta autoimune que faz com que o próprio sistema imunológico ataque o corpo e cause inflamação nas articulações, pele, cérebro e coração. Este problema é conhecido como febre reumática.
Os sintomas tendem a aparecer algumas semanas após o início da faringite estreptocócica e geralmente incluem dor, inflamação articular, febre e até mesmo dor torácica.
A febre reumática "aguda" pode durar semanas ou meses. Os sintomas que afetam o coração são uma indicação do tipo mais grave de febre reumática a longo prazo: doença reumática cardíaca.
A doença reumática cardíaca ou cardiopatia reumática é causada pela inflamação do coração que causa danos permanentes, principalmente nas válvulas cardíacas, que podem gerar problemas no fluxo sanguíneo. Posteriormente, isso pode levar a complicações potencialmente fatais, como derrame ou acidente vascular cerebral.
Na generalidade de doenças reumáticas, a febre reumática é bastante incomum e está estritamente ligada à faringite estreptocócica, embora a razão pela qual a faringite estreptocócica pode desencadear uma resposta autoimune ainda não seja totalmente conhecida.
A febre reumática também é diferente de outros distúrbios reumáticos, já que o dano mais grave a longo prazo ocorre geralmente no coração, dando origem à doença reumática cardíaca ou cardiopatia reumática.
Embora a faringite estreptocócica seja relativamente comum, menos de 0,3% das pessoas com faringite estreptocócica desenvolvem febre reumática nos Estados Unidos, por exemplo. É uma condição muito rara na maioria dos países desenvolvidos. No entanto, é muito usual em países em desenvolvimento e em partes remotas de países como a Austrália.
Outra doença reumática sobre a qual muitas pessoas procuram regularmente informação é o reumatismo palindrómico.
4. O que é o reumatismo palindrómico?
O reumatismo palindrómico é uma forma muito rara de artrite, ao qual o seu elevado nível de procura se deve, provavelmente, ao seu nome invulgar.
Um palíndromo é qualquer palavra, frase, número ou sequência de carateres que é lido da mesma forma, tanto da esquerda para a direita como da direita para a esquerda, como Roma é amor ou A base do teto desaba.
O nome reumatismo palindrómico refere-se à forma como os sintomas ocorrem repentina e espontaneamente, duram horas ou dias e depois cessam de forma igualmente abrupta. Tais ataques são muitas vezes esporádicos e imprevisíveis por natureza.
Os sintomas assemelham-se geralmente aos da artrite reumatóide: dor e inflamação das articulações e do tecido circundante. Ao contrário da artrite reumatóide (e outras formas de artrite), o reumatismo palindrómico normalmente não causa danos duradouros nas articulações.
Assim como a artrite reumatóide, o reumatismo palindrómico é uma doença autoimune. As semelhanças e diferenças entre as duas condições dão origem a um debate: deve o reumatismo palindrómico deve ser classificado como um subtipo de artrite reumatóide ou como uma doença em si?
Existem vários fatores que desempenham um papel importante na determinação do risco de desenvolver reumatismo palindrómico.
5. Quem está em maior risco de reumatismo?
Primeiramente, vamos explorar os distúrbios reumáticos autoimunes, que incluem reumatismo palindrómico, artrite reumatóide, lúpus, e muitas outras condições.
Género
Quase todas as doenças autoimunes afetam mais as mulheres do que os homens, uma tendência que também se aplica às doenças reumáticas autoimunes. A artrite reumatóide afeta cerca de 40.000 pessoas em Portugal, sendo a maioria mulheres.
Genética
Acredita-se que a genética desempenham igualemnte um papel notável no desenvolvimento de doenças autoimunes, por isso, se um membro da família vive com uma doença reumática autoimune, as chances de desenvolver uma doença podem aumentar. Os investigadores também identificaram mutações genéticas específicas que estão ligadas a doenças em concreto. Atualmente, isso é não é muito útil a níveis práticos. No entanto, trata-se de um campo de investigação que poderá conduzir a uma maior compreensão das doenças autoimunes e, esperemos, a um melhor tratamento.
Etnia
A etnicidade parece desempenhar um papel importante no risco de desenvolver uma doença autoimune. A prevalência de lúpus, por exemplo, é até oito vezes maior na população afroamericana e afrocaribenha do que na população de descendência europeia. Idem, a prevalência da artrite reumatóide é até quatro vezes maior nos nativos americanos do que nas pessoas de ascendência europeia.
Embora varie de doença para doença, as populações afroamericanas, afrocaribenha, nativoamericana e latina são geralmente mais propensas a desenvolver uma doença autoimune do que as populações caucasianas, uma tendência que se aplica às doenças reumáticas mais comuns.
Ambiente e estilo de vida
Apesar de ser possível ter predisposição genética para uma doença autoimune, habitualmente acredita-se que os factores ambientais desempenham um papel crucial no desenvolvimento da doença. No entanto, continua a ser um grande mistério quais os desencadeadores para o aparecimento de uma doença autoimune.
Certos vírus foram associados ao desenvolvimento de doenças autoimunes, como o exemplo acima de faringite estreptocócica que desencadeia a febre reumática. Semelhantemente, o vírus Epstein-Barr foi conectado a uma série de doenças autoimunes, incluindo a artrite reumatóide.
Quando se trata de estilo de vida, a obsidade ou o hábito de fumar têm sido associados a uma vasta gama de doenças autoimunes, mas pouco se sabe sobre a natureza exata da relação.
Idade
A idade em que se corre maior risco de desenvolver uma doença autoimune varia de condição para condição. Por exemplo, as crianças estão em maior risco de febre reumática, os sintomas de lúpus geralmente começam entre os 15 e os 40 anos, enquanto os sintomas de artrite reumatóide são mais propensos a iniciarem entre os 30 e os 50 anos.
Não existe um único perfil de risco que se adapte a todos os tipos de doenças reumáticas autoimunes. Apesar disso, existem certas caraterísticas que são comuns ao aparecimento da maioria das doenças autoimunes, como o género e a etnia, que se aplicam quando se trata de perturbações reumáticas. Também é verdade que se uma pessoa vive com uma doença autoimune, é mais provável que desenvolva outra (reumática ou não).
Fatores de risco da osteoartrite
O transtorno reumático mais comum não é uma doença auto-imune. O maior fator de risco para o desenvolvimento de osteoartrite é a idade, que ocorre em cerca de 10% dos homens com 60 anos de idade ou mais e 13% das mulheres.
Outros possíveis fatores de risco:
- Obesidade
- Lesões e cirurgias
- Género (as mulheres têm um nível de risco mais elevado, embora não na mesma medida que as mulheres com doenças autoimunes)
- Fragilidade muscular
- Desporto e atividade física
A última alínea é objeto de debate. Alguns estudos sugerem que os atletas de elite estão em maior risco de osteoartrite e que níveis regulares de exercício podem aumentar o risco, especialmente no quadril e nos joelhos. No entanto, outros estudos sugerem que (na ausência de lesões graves), o exercício moderado não aumenta o risco.
Um estilo de vida sedentário aumenta, indubitavelmente, o risco de desenvolver outros problemas de saúde, tais como doenças cardíacas. Sendo assim, o exercício é sempre recomendado como parte de um estilo de vida saudável.
Além da osteoartrite, cada doença tem o seu próprio perfil de risco. Por exemplo, a gota é mais comum nos homens, devido aos níveis mais elevados de ácido úrico e o risco de a desenvolver aumenta com a idade. Aproximadamente 12% dos homens entre os 70 e os 79 anos de idade vivem com gota, em comparação com 3% dos homens com menos de 50 anos de idade. O álcool afeta a capacidade do organismo remover o ácido úrico, pelo que é também um fator de risco.
O que significa tudo isto?
Até que se resolvam mais mistérios relacionados com doenças autoimunes, não há muito que possa ser feito para reduzir o risco de desenvolver uma. Género, idade, disposição genética e fatores ambientais ainda estão fora do nosso controle.
Para outras doenças reumáticas, seguir um estilo de vida saudável (uma boa dieta, exercício suficiente, não fumar e consumir moderadamente ou não consumir de todo álcool) continua a ser a melhor opção para reduzir o risco de desenvolver uma doença reumática ou reumatismo.
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